sábado, fevereiro 28, 2004

"Dossier armas de destruição maciça": já informámos tudo?

Desde o início deste ano que o assunto sobre a não existência de "armas de destruição maciça" no Iraque tem sido um dos principais temas focados pelos meios de comunicação de todo o mundo, inclusive, nos "media" nacionais. E tudo porque – como todos já saberão –, as razões apresentadas por alguns países, inclusive pelo Governo português, para agir militarmente no Iraque, afinal não tinham 100 por cento de consistência, ou eram insuficientes para motivar tal reacção militar; isto, com base em vários testemunhos que, entretanto, vieram "a lume", difundidos e publicados por vários órgãos de comunicação social, como, aliás, normalmente acontece.
Como jornalista, parece-me interessante observar que aquele tema tem sido fortemente "discutido" nos "media", sobretudo nos que integram os países que fizeram parte da força militar que agiu no Iraque, com destaque para os meios de comunicação norte-americanos e britânicos*, e também, embora com menos expressão, nos "media" nacionais. E fizeram-no, ou têm-no feito, porque aquela iniciativa militar foi justificada com base em informações divulgadas por esses governos, que, agora, parecem "cair por terra".
Como lhes compete, os "media" procuraram saber, analisar e divulgar os motivos e as razões que terão levado a tais "erros de informação", mas quiseram, e querem, sobretudo, informar. Nesta perspectiva, penso que os media nacionais não seguiram "a linha" percorrida por alguns dos seus congéneres internacionais.
Dou como exemplo uma pesquisa que efectuei na edições on-line de dois jornais de forte expressão nacional, o Público (um diário) e o Expresso (um semanário), onde, desde o primeiro dia do corrente ano, publicaram várias notícias (dezenas) sobre aquele assunto, mas remetendo sempre, ou quase sempre, o tema como uma questão internacional, pelo que pergunto: Não esteve também Portugal, desde o início, de braço dado com outros países na questão da invasão do Iraque? Não afirmou o primeiro-ministro Durão Barroso, de forma peremptória, na Assembleia da República, que Portugal tinha "provas" de que no Iraque existiam "armas de destruição maciça"? A resposta, como todos sabem, é positiva; então porque os "media" nacionais não trataram este assunto como um tema nacional? Porquê raras as vezes questionaram o Governo sobre esta matéria?
Por enquanto, não encontro resposta para estas questões, mas têm me dado que pensar, sobretudo quando me coloco no papel de leitor, ouvinte e telespectador; Afinal, nós, jornalistas, também somos os destinatários da informação; Será que como jornalistas, e sobre este assunto, temos cumprido o nosso papel?

*(alguns excertos)

in Público

9 Janeiro 2004

"New York Times"
«EUA terão desistido de encontrar armas de destruição maciça

Oficiais das Forças Armadas dos Estados Unidos admitiram ontem ao "New York Times" que Washington praticamente desistiu de encontrar no Iraque esconderijos com as armas de destruição maciça - químicas e biológicas - apontadas como um dos motivos principais para desencadear em Março a guerra contra Saddam Hussein. (...)».

«Apesar de dar importância às relações amigáveis com os EUA

Durão manifesta-se contra pena de morte a Saddam Hussein

Durão Barroso defendeu ontem à noite a importância de um relacionamento amigável com os Estados Unidos, embora tenha discordado de alguma políticas norte-americanas, nomeadamente a possibilidade de ser aplicada a pena de morte ao ex-ditador iraquiano Saddam Hussein. (...)».

14 Janeiro 2004

«Relatório publicado ontem pelo War College do Exército dos EUA

A guerra com o Iraque foi um "erro estratégico"

A guerra desencadeada pelos Estados Unidos no Iraque não só foi "desnecessária" como resultou de um erro estratégico ao reunir "regimes como o de Saddam Hussein e a Al-Qaeda como se fossem uma única ameaça não diferenciada", afirma um relatório publicado ontem pelo War College do Exército dos Estados Unidos. (...)».

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in Expresso

31 Janeiro 2004

«Bush continua a negar
O PRESIDENTE Bush continua a não reconhecer que tenha havido algum erro de informação dos serviços secretos ou inexactidão nas palavras que utilizou para convencer o povo americano e o Congresso a autorizá-lo a invadir o Iraque. (...)».

«Tony Blair sobrevive ao Relatório Hutton
O PRIMEIRO-MINISTRO britânico, Tony Blair, sobreviveu incólume à semana que prometia ser a mais infernal dos seus dois mandatos. A proposta de lei sobre as propinas foi aprovada na Câmara dos Comuns por uma maioria de cinco votos, e o relatório Hutton à morte do cientista David Kelly ilibou Blair e o ministro da Defesa, Geoff Hoon, de terem enganado a opinião pública quanto à capacidade militar do Iraque. (...)».

7 Fevereiro 2004

«Dossiê Iraque na mira
O PRIMEIRO-MINISTRO britânico, Tony Blair, esperava encerrar de vez o controverso «dossiê Iraque» com a publicação do Relatório Hutton, mas os seus cálculos saíram errados. O relatório não pôs fim às dúvidas da opinião pública ao ter ilibado o Governo de forma tão clara e inequívoca. (...)».

«Bush e Blair de mãos vazias
OS EUA e a Grã-Bretanha anunciaram nos últimos dias que vão realizar investigações, separadas, sobre as razões pelas quais as apregoadas armas de destruição maciça iraquianas nunca foram encontradas. Nos meses que antecederam a invasão ou já com as operações militares em curso, os governos dos dois parceiros transatlânticos -, mais o aliado espanhol (hoje o mais renitente às evidências) -, garantiam que o Iraque possuía armamento químico e biológico, além de estar a desenvolver armas nucleares. (...)».

«BBC sob fogo cruzado
A British Broadcasting Corporation (BBC) vive o pior momento da sua história, com demissões em série, movimento de solidariedade com os demitidos, abaixo-assinados, críticas ao Governo de Tony Blair - enfim, a maior convulsão interna de que há memória. (...)».

«A BBC e os factos
MUITAS pessoas ficaram surpreendidas com o recente relatório de Lord Hutton que ilibou o Governo Blair e culpou a BBC de sérias irregularidades, entre as quais a voluntária distorção da verdade. (...)».

«A grande barrela
AFINAL, lá cortaram outra vez a cabeça ao mensageiro. O portador das más notícias foi, neste caso, a BBC, que se aproximou demasiado da verdade dos factos, mas o fez com maus modos, bruscamente e de má-fé, sem avisar nem pedir licença ao Governo do senhor Tony Blair. A dar crédito ao relatório do juiz Brian Hutton, o primeiro-ministro britânico é um santo homem que se enganou ou foi enganado e nos enganou a todos de boa-fé. Não é admissível questionar a sua integridade moral e a sua autoridade política por causa de umas quantas mentiras de interesse público induzidas por serviços secretos incompetentes. (...)».

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