sábado, abril 24, 2004

Mudem o código deontológico dos jornalistas!

Não é a primeira vez que abordo aqui este assunto. Isto é: a informação televisiva confunde-se algumas vezes (e cada vez mais) com entretenimento e "espectáculo" em directo. Não se trata, como alguém chamou na altura da primeira guerra no Golfo Pérsico (durante a ocupação do Iraque no Kuwait), de "informação (massiva) em directo"; vou dar-vos alguns exemplos, um deles recente:
Hoje, ao início da madrugada, quando Valentim Loureiro saiu em liberdade do Tribunal de Gondomar, vários órgãos, senão todos, da comunicação social nacional, aguardavam no exterior por conseguir algumas palavras do "major", aliás, como seria de esperar. Até aqui tudo bem. E, claro está, sucederam-se os directos televisivos; o mesmo aconteceu minutos depois, com a chegada de Valentim Loureiro à sua residência; à sua espera estavam mais alguns jornalistas (não tantos como minutos antes), na "ânsia", compreensiva e legítima, de obter mais algumas palavras do mesmo interlocutor; voltaram os directos, e foi através deles que os telespectadores assistiram a emoção da família do "major" com a sua chegada a casa, nomeadamente, a emoção da sua filha, que proferiu, por várias vezes, o orgulho que tinha do pai (se o contrário acontecesse é que seria de admirar);
O que quero dizer com isto, é que, se compreendo a presença dos canais de televisão, e, por consequência dos "directos", que transmitiram aquele momento de emoção, por outro lado, não compreendo porque essas imagens passaram vezes sem contas ao logo do dia nas televisões portuguesas; que informação trouxeram aquelas imagens ao telespectador? Uma coisa é a sua transmissão em directo, outra é voltarem aos ecrãs vezes sem conta, visto que, aquilo não é informação, mas sim "espectáculo televisivo"; e, atenção, eu sou um comunicador, mas também um telespectador, e, tal como eu, muitos outros telespectadores fazem a mesma análise; eu conheço alguns! Mais uma vez, demos um passo atrás na (des)informação!

Outro exemplo que não resisto escrever aqui, e que também foi alvo de alguma controvérsia, foram as imagens, diga-se "violentas", transmitidas sobre a ameaça de raptores a cidadãos japoneses, no Iraque, há mais de dez dias; não sou um "censor" da imagem, mas há limites (tem de haver!) na informação; que ficou o telespectador a saber, a conhecer, a mais, com a transmissão de imagens que mostravam facas apontadas aos cidadãos, cujos rostos eram perfeitamente identificados nas imagens? Não estiveram os "jornalistas/comunicadores" envolvidos na captação daquelas imagens a fazer o jogo dos raptores? É preciso, de uma vez por todas, pensar nisto, caso contrário, mudem o código deontológico dos jornalistas, porque ele é, cada vez mais, menos respeitado! Mas se assim acontecer, não quero mais ser jornalista!

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